Há alturas na vida das empresas em que nos damos conta que ora fazemos tudo, ora não fazemos nada do que planeamos. A sensação é a de que funcionamos “aos bochechos”, como que “aos soluços”, e na Farmácia não é diferente…
E não é que a táctica do susto também funciona?! O problema é que, na maior parte das vezes, precisamos do susto para percebermos que os soluços estavam lá… E no contexto actual, o preço a pagar é demasiado elevado!
Quando os resultados não chegam e as vendas baixam, rodopiamos a reunir com a equipa, com os armazenistas e os laboratórios, insistimos na venda cruzada, reinventamos as campanhas que no passado tiveram sucesso, seguimos cada utente como se fosse o único, focalizamos as energias em duas ou três apostas fundamentais… a equipa anda mais motivada, os líderes mais orgulhosos e cheios de si, e os resultados aparecem!
Quando os resultados estão mais ou menos em linha com os do período homólogo do ano anterior (o que nesta fase é quase um mérito…), a pressão abranda, o sentido de urgência não está tão presente, a liderança torna-se menos focada ou menos assertiva porque as coisas até estão a rolar, menosprezamos a comunicação e… lá vêm eles por aí abaixo – os resultados caem!
E depois começa tudo outra vez…
Motivação aos soluços
A da Equipa e a nossa! Claro que a motivação proporcionada pela Farmácia a cada colaborador, por cada DT ou Farmacêutico Adjunto à sua equipa, são fundamentais. Mas serão suficientes hoje em dia? Não será cada indivíduo responsável por se auto-motivar?
Nas reuniões anuais, em eventos lúdicos como ir andar de kartings ou participar num workshop de maquilhagem, logo após um jantar de Natal ou um almoço de equipa, em regra, anda tudo numa animação, com a camisola mais do que vestida. Claro que sim, que estes momentos ajudam, mas jamais podem ser tudo.
Os desabafos como “Fizemos esta ou aquela iniciativa no início do ano, mas sabe como é, a equipa esmoreceu, e agora já precisávamos de fazer outra coisa qualquer” são cada vez mais frequentes.
Temos na nossa equipa elementos que estejam à espera de uma injecção de motivação todas as semanas, de uma palmadinha nas costas todos os dias, que lhe passem a mão pelo pêlo sempre que cumprem determinado objectivo?
Então, e onde fica a quota-parte de motivação de cada um? O que se passa com a minha motivação intrínseca? O que é que eu valorizo, que objectivos profissionais ou pessoais persigo para me motivar? Quais as escolhas que posso fazer, como as valorizo e por que estou grato? E, já agora, o que faço para motivar os outros?
A Farmácia, hoje, não se pode dar ao luxo de ter as pessoas motivadas só de vez em quando, já pensou nisso?
Liderança aos soluços
Recentemente, uma DT de uma Farmácia que acompanhamos dizia-me “Era tão tranquilo quando podia ser apenas uma excelente farmacêutica…” Tempos diferentes exigem abordagens diferenciadoras!
Se o responsável máximo na Farmácia não estiver motivado, não consegue ser um bom líder, dificilmente terá a capacidade de inspirar ou contagiar alguém.
Se exigimos às equipas dedicação, compromisso e flexibilidade constantes, temos que estar preparados para comunicar, apoiar e delegar a toda a hora. Temos que estar presentes. É uma questão de congruência.
Se não queremos “picos” de produtividade (porque depois vêm os “vales”), também não nos podemos permitir estar lá só quando é preciso (leia-se quando a coisa complica), senão o sucesso também se engasga… e muito!
E, como será de prever, a liderança soluça.
Não é fácil (nem expectável) liderar-se sempre de forma excepcional, não há líderes perfeitos. Os líderes servem as equipas que têm e, se não servirem adequadamente, não são bons líderes. A experiência ajuda muito, mas em matéria de liderança, infelizmente, não nos traz todas as respostas…
O DT / Gestor / Proprietário não tem que encontrar todas as respostas sozinho. Quando não tem uma visão clara do caminho, ou da melhor forma para lá chegar, há que escutar activamente a equipa, rodear-se de outros líderes e perceber como estão a actuar, reforçar as competências que possui, desenvolver outras… crescer continuadamente.
Resultados aos soluços
Quando a liderança perde o foco, já todos sabemos que é muito provável que aconteça o mesmo com a equipa.
Agora, se precisamos do melhor de todos os Farmacêuticos e Técnicos na equipa para fazer os números, não podemos deixar de chegar a eles, mesmo que não nos agrade o que temos para comunicar ou que não tenhamos nada de diferente para dizer.
Se o maestro falha, a equipa desafina e os resultados não aparecem. Infelizmente, nestas circunstâncias o efeito dominó funciona bem demais… Mas está nas nossas mãos parar os soluços! Antes do susto, que tal o típico sopro?
Temos o problema mais do que identificado, está na hora de partir para a solução! E a solução chama-se invariavelmente acção, consistência, trazer continuadamente coisas novas à agenda.
Chama-se também disciplina, para planear, seguir e controlar de forma sistemática, sem deixar para amanhã, para a semana ou, pior ainda, para quando houver tempo. Esse, dessa forma, nunca chega.
E chama-se ainda perseverança, porque as coisas não acontecem de um dia para o outro e, às vezes, só não acontecem porque desistimos cedo demais ou porque deixámos de acreditar.
E quando o sopro interno não for suficiente, dê um voto de confiança a quem o possa ajudar…
Ajude-nos a melhorar deixando a sua opinião sobre o tema: