Curiosamente, quem estuda estas áreas comportamentais encontra consistentemente a mesma resposta…
Quem gosta de um trabalho repetitivo, pouco interessante e que não o desafie?
Lembro-me perfeitamente do meu primeiro projeto de consultoria, em que trabalhávamos com o departamento financeiro de uma grande empresa do sector das telecomunicações. Na secretária ao lado da minha sentava-se uma colaboradora dessa empresa que, ao longo de todo o dia, toda a semana e dos primeiros meses que lá estivemos, só me lembro de, ritmadamente, ver carimbar o verso dos cheques que a empresa recebia… Lembro-me da cara sem expressão inicial com que chegava todos os dias de manhã, lembro-me do rosto aberto com que passou a chegar quando as suas funções foram revistas…
Todos nos demos conta que as tarefas de back-office cresceram na Farmácia e que os números no final do mês têm grande probabilidade de encolher, ninguém pode sentir que não estar ao balcão é um trabalho menor…
Às vezes não é o que temos para fazer, é o enquadramento que temos do nosso trabalho no todo, a falta de envolvimento no planeamento e a pouca visibilidade do impacto do nosso desempenho nos resultados. Às vezes não envolvemos suficientemente os nossos Farmacêuticos e Técnicos, não falamos periodicamente do que é essencial, não acompanhamos ou não reconhecemos o suficiente.
Conhece alguém que não goste de ser reconhecido?
E não se trata da remuneração que lhes deixámos de poder pagar… as horas extras que passaram a banco de horas, o trabalho ao fim de semana que passou a estar incluído no número de horas semanal, uma parte da remuneração fixa que passou a variável e, nos casos mais complexos, a necessidade de chegar a acordo para redução salarial. Eles sabem que isso aconteceu ou está a acontecer noutras Farmácias, aos seus amigos e que o mercado está excedentário, uma situação muito diferente da de há dois anos atrás.
Na Farmácia, como na maior parte dos sectores de atividade, remunera-se cada vez mais em desafio, em envolvimento, nas oportunidades que proporcionamos, nos sonhos que acompanhamos ou nos “obrigado” que somos capazes de dizer.
O dinheiro é importante, mas está longe de ser a primeira razão porque perdemos pessoas ou porque elas não se envolvem mais e não melhoram o seu desempenho. Ou não é o que lhe acontece a si?!
Motivado ou satisfeito?
Isto é mais ou menos o mesmo que perguntar a alguém “Como estás”? e do outro lado ouvirmos “Tudo ok!” ou “Vai-se andando…”
Irmos andando ou andarmos satisfeitos é curto para o que cada um de nós precisa, para o que os nossos colegas precisam de nós ou para o que a Farmácia espera de cada um.
Quando o colaborador atinge um objetivo fica satisfeito, mas depois precisa de um novo objetivo, para correr atrás dele. A satisfação que vem detrás não chega…
Uma analogia que me ocorre é a do serviço de aconselhamento em nutrição. Ninguém se motiva por estar a dieta, se a meta de perder 5 kg for atingida, há que estabelecer nova meta e deixar o utente a sonhar que vai voltar a caber num ou dois tamanhos abaixo ou poder pôr de novo aquele vestido.
É que esse “vai-se andando” de cada um expressa-se, mesmo que não seja verbalizado! Expressa-se quando não se sorri ao balcão, quando não se olha para o utente para criar empatia, quando nos desfocamos de cruzar vendas, quando no final do mês o receituário está amontoado, quando as banheiras se empilham porque damos entrada devagar devagarinho. Quando entramos nesta espiral, estamos a entregar o serviço de excelência à Farmácia mais próxima, ninguém pode estar disponível para o utente sem sentir paixão pelo que faz!
Então, quantas vezes investimos o suficiente e nos sentamos para escutar os elementos da Equipa que nos passam sinais de “vai-se andando”?! Às vezes até vêm da Farmacêutica Substituta…
Quantos colaboradores “marginais” (que deixaram de ser as nossas primeiras escolhas, entenda-se) nos podemos dar ao luxo de ter na nossa Farmácia?
E se motivar fosse fácil?
Possível é…, por isso aqui ficam algumas dicas:
– permita que o colaborador esteja mais em controlo da tarefa que desempenha – envolvendo-o no planeamento, estimulando-o a pensar alternativas mais eficazes e a questionar os procedimentos instituídos;
– promova o coaching de desempenho: oriente mais, questione mais, liberte e acompanhe adequadamente;
– dê feedback individual – faça-o de forma sincera e assertiva, sem “paninhos quentes” ou sem adiar para a melhor altura, que essa nunca vai chegar…;
– elogie de forma sincera e entusiasta – sabemos que é esperado que eles façam bem, mas se isso acontece e se o reconhecemos, porque havemos de deixar passar? Há que elogiar e há que partilhar essa vitória pela equipa inteira, só pode elevar a moral!;
– comunique antecipadamente as mudanças – o silêncio alimenta a “rádio alcatifa”; tal como as boas notícias, as más ou as que vão exigir mais das pessoas também devem ser comunicadas o mais cedo possível;
– desafie as competências que conhece em cada um – a zona de conforto é uma periferia elástica em torno de cada pessoa, se não a desafiarmos com tarefas distintas, com projetos novos, com responsabilidade acrescida, o elástico não se alarga… e o colaborador não diversifica, não se torna mais flexível e não cresce;
– nunca bloqueie as oportunidades de crescimento – o verdadeiro líder não tem medo que ocupem o seu lugar… quando os que nos rodeiam crescem, a Farmácia já terá evoluído para precisar de si numa nova posição.
Quando fazemos o que nos desafia, quando há oportunidades de crescimento na Farmácia, quando sentimos reconhecimento, quando nos permitem ter uma vida pessoal/profissional equilibrada e a nossa compensação é adequada, quando tudo isto nos acontece ou a cada um dos nossos colaboradores, não restam dúvidas de que o melhor motivador é… o trabalho em si!
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